sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Vazio

Tempo que não me distrai
Não há música que sirva tão bem
Quanto a dez anos atrás


Não há lugar para ir senão o lar
Ou chão que nos faça sentir o que temos em comum
O vazio do espaço
O azulejo gelado onde deitado observo o céu e a chuva
Goteiras num teto caindo aos pedaços
E penso nas pessoas que somem.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

19

Lesado de conceitos inúteis e clichês vagos
No meio do caos, esquecido das chaves de casa
Submerso em teorias fúteis e noções ultrapassadas
Verdade é que o jogo acabou, e a lógica é clara:
Eu perco e você se perde
O que tudo nos dizia.


Finge não perceber, esconde seu rosto nas mãos
Parece esse o último adeus, não sei do que se trata
A cada vez que volta a curva é mais tensa
A chuva é mais grossa, a mata mais densa
Só ia esperar dessa vez, 
Mas agora realmente estou indo.

Perigo

Pela desordem que é alma do quarto
E as vozes do sono que implicam comigo
Eu não faria melhor ode.
Pela ausência ao avesso de amigos
O acaso que registro, logo vivo
Relembro, logo paro
As drogas de hoje somente recriam
Um eu que, toda vez que preciso, morro um bocado
A maldita ilusão de que fiz o possível
Prometi viajar para longe, voar alto
E, logo que entrei, me vi na estação
Era eu voltando de não-sei-onde


Você perdeu a razão, me deixe um motivo
Que dessa vazão explosiva eu talvez sare
E nessa explosão evasiva eu talvez fale
Que, de alguma forma eu ainda corro perigo.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Busca

Foi preciso revirar os cantos
Sacudir o quarto, derrubar a estante
Intervir na noite, apagar as luzes dos postes
Até me encontrar no final da estrada,
Rumo ao litoral.
Foi necessário chegar a pouco pra tanto
E na linha onde o céu encontra o oceano
No meio do mar, sob nuvens enfermas
Percebi que efêmero é tudo
E que eterna é minha busca.

sábado, 15 de outubro de 2011

Parte

Eu quero, antes de mais nada
Saber se, depois de tudo, já saí do lugar
Tenho uma cabeça cheia de lamentos cômicos e esquecidos
E na mala, as histórias não acontecidas
Prontas para serem descritas
Me diga se se pode esquecer o que há de haver
Se o que chamo de iminente beira o absurdo
Os sinais nos perseguem, e de tanto aceitar esse não-negar
Gerou-se verdade absoluta e agora estou cego
Agora estou surdo e fora de destino.


Um pouco mais do ar que encontra meu rosto ao sair do trabalho
Da alucinação que acompanha o estado de vigília no sofá
O cinzento do céu e o frio nos pés, desperto em tarde vazia
A razão que a gente faz a cada encontrar, o passar dos dias
Cria em cada grão mais do que uma casca, uma pérola
Sufoca na história seus fins.


Saí pelas ruas à noite, caminhando só
E as correntes de ar do passado passaram, assim que as senti
Levando uma parte grande de mim.



domingo, 25 de setembro de 2011

Vício

Vício

Sinto não mais sobreviver se esta noite não chover
E parar pra pensar me faz esquecer que estou vivo.
Vire seu rosto de frente a olhar em meus olhos
Sua simplicidade delicada como chuva de meteoros.

Os objetos somem pelo quarto...
E luzes deslizam pelo chão, onde estou deitado
Folhas se espalham num outono falso
E mais uma trilha atrapalha meus passos
Por frutas mais pecas e galhos mais secos
Pássaros pretos mortos no quintal
Imagino esse céu como limpo, eu que nem sinto mais
Presença inquietante, esse mal viciante
Que um dia, por acaso, me faça, só abra seus braços
E me alivie um pouco mais.


8 de novembro de 2007

Queda

Olho pro alto na queda e você se levanta
E o sol castiga esse corte profundo
Faz do desastre tragédia, ferida tamanha
Olha pro alto na queda e de nada adianta
Você dá as costas ao mundo.

sábado, 24 de setembro de 2011

I

Ao que parece me mato pra salvar minha vida
E o que perdi podia ser o que eu mais queria
Viver pra me distrair
Amar só por acaso.

Trem

Pare esse trem antes que te passe
E eu, no meio da linha, me desespere
De amor que do nada é ferida curada, tempo perdido
Pare esse trem e me espere
Porque estive tão longe e de nada soube
Porque a deixei ir sem motivo
Mas o tempo é uma terra que nos deixa sem onde
Pare esse trem, e estou vivo.

Estrada

Faróis dos carros que passam, que cegam
E sigo pelas pedras, tão fácil cair
Perder-se no meio da serra, alto da estrada
Me espera do nada, distorce essa cena
Me mostra a cidade, mãos dadas
E pouco me importo que seja pequena
A vista é alegre e distante, as fotos são tantas
Ninguém nos dirá que isso nunca existiu
Espere e não faça mais drama, não vá para o meio da rua
Sou eu aquele estranho que você olhou, e nem viu
Andando sozinho do lado de lá.

Conto

Nem acredito que chegue a tal ponto, incrustado aos cantos
Acordado no meio da noite sem saber dormir
E vai me girando até ficar louco, deixar tonto
Vem pra cuidar desse tempo lá fora e vamos sair
Desse conto que não tem mais fim.




6 de novembro d 2007

Chuva

Empurre meus olhos pra dentro da mente e me acorde
Antes que o céu se desfaça sobre minha cabeça
Raízes de luz que passam e arranham os ouvidos
Imaginava que a noite fosse tamanha


Esqueço o caminho em poças escuras e rasas
Do chão dessa casa repleto de garrafas de vidro
O que me distrai e conforta, me torna incompleto
E feche as janelas, o temporal é certo
Como a frieza do que pressinto:
Só vou acordar
Se, de sua mão, me soltar
O meu quintal é labirinto
Que deságua no mar no final
Quando tudo que tenho é finito...


Sumirei com o sonho também.
E o meu despertar sumirá com seu riso.


16 de março de 2008

Céu

O céu em movimento vai ofuscar seu brilho
E um trapo de vento marcar sua boca num fio de cabelo que tiro
Nos fizeram distantes, sem tempo pra errar
Nos expondo ao mundo.
Se te desconcerta, não estou mais certo, não
Num vazio a céu aberto, espera pra então recriar
Por as mãos sobre a terra, minúsculas e livres
Quando gira um mundo imenso bem perto de si.
[...]