segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Horizonte Perdido

Eu já esqueci de como se parece o céu na estrada
E as nuvens que disfarçam aquele azul desgasto
E o cheiro de fumaça das queimadas
Enquanto a gente sonha com recomeços do outro lado
Mas ainda deixando as luzes de casa acesas quando sai

04 de dezembro de 2017

terça-feira, 18 de julho de 2017

Incontáveis Dias

Nos incontáveis dias da espera e da busca
De algo que nem ao menos existia a não ser pelo anseio
O sol da manhã não vinha senão pelas frestas mais tímidas
E acordávamos com menos do brilho nos olhos que tínhamos.

Nos incontáveis dias em que os hábitos eram consequências
E os propósitos, nada mais que decisões de fim de tarde
Era quase impossível dormir com a tv dos vizinhos
E ignorávamos os fantasmas que vez ou outra víamos.

Nos incontáveis dias da imperfeição e do ócio
E despedidas que mais pareciam inícios
A poeira vinha no vento, a se acumular nos cantos
Nos dias de atraso das contas e aumento dos cabelos brancos.

Nos incontáveis dias da quebra constante dos laços
E apagar das luzes do prédio ao lado
Lembro que romantizava a perda de algo que talvez nem tive
Confinado no início de minha então narrativa.

18 de julho de 2017

quarta-feira, 13 de abril de 2016

Incansável

Num momento o corpo pesa como um pêndulo
E me perco na sucessão das luzes
Esse talento descritivo disperso
Vai me deixando aos poucos sem recursos
Confuso entre o que de fato preciso
E alguma coisa marcada na página de um livro
Enterrado na sua prateleira entre os espaços 

A incerteza é talvez o maior de meus princípios
E nem me interessa se nisso há algo de errado
Não procuro alimentar essa noção de ser solitário
Muito embora me embriague na solidão dos sentidos
No momento em que nos encontramos entre a fronteira do contato
E a iminência de acordar os vizinhos

Incansável
Os nossos dias se acumulam sem sequer termos envelhecido
O presente se constrói numa réplica de quatro anos passados
E enxergamos de longe nosso auge desaparecido
Ali entre uma porção de dias sem data
E noites repletas de vícios 

A gente só precisa voltar pra casa

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Artifício

Por não ter escolhido o que quer que seja na vida
Talvez ainda não haja o que me proteja durante o sono
Mantenho uma certa distância da porta e continuo por perto
Sendo a brisa da área o artifício de que preciso
Pra saber que não caí novamente no vazio

Talvez seja tarde, a sala já se encontra fria
e eu ainda não encontrei o ponto onde possa dormir
sem que haja mais sono no dia seguinte ou que ainda seja cedo
e acorde de madrugada e me ocorra a ausência das coisas

Naquele poço de silêncio fundo
Sobra esquecimento e conforto
Some a inquietude dos reflexos

Talvez a gente só precise dormir

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Lança

Há uma ponta de mergulho em cada vôo, uma ponta de inércia em cada dança
Há uma ponta de quebra em cada laço, uma ponta de não sei o que faço
em cada certeza; uma ponta de lança apontada e presa 
no coração de minha dúvida que 
já não dá conta de 
tanto receio de 
acabar

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Pintura

Entre tintas imiscíveis e superfícies ásperas
Você descobriu seu propósito na falta de um
Corremos por dias que de longe se confundem entre si
Imaginando que a falta de tecnologia nos faria livres

Entre linhas de raciocínio cínicas e planos esquecidos
Os seus sonhos se encontravam numa gaveta cujo código esqueci
E que agora pertence a partição de que não tomamos parte
Na burocratização da papelada que parecia até arte
Quando arremessada do topo de um arranha-céu 

Entre justificativas e meios de fins
Fingi não me afetar porque não me importava
Ou não me importar por uma questão de afeto
Imaginando que pudesse viver de sensação
Acabei atropelado pelos próprios excessos

Entre nuvens amareladas e tintas nas mãos
Eu era retratado nessa pintura quase como um traço
Procurava por algo insignificante, 
mas talvez me sentisse vasto
Como a linha do horizonte desse chão.

segunda-feira, 10 de março de 2014

No Escuro

Acordei com um escuro sem hora pra acabar
E no escuro tateei em vão as chaves 
E no escuro desci as escadas e encontrei o carro
E no escuro andei em voltas pela cidade
E no escuro as luzes fundiam em meus olhos os muros
E tudo parecia nada e o cheiro parecia novidade
E no escuro seu emaranhado de curvas parecia claro
E a luz parecia ter a dose de escuro perfeita
Quando vinha translúcida debaixo do escuro da coberta.