terça-feira, 24 de julho de 2012

Vertigem


A folha que eclipsa o sol
Invade o que pode parecer uma fixação
Das pedras que raspam a água em passos lerdos
Tempo em que as ideias nem sequer rompiam as pontes do cérebro
Embora drogado consumo essa dose de lucidez que explode
E enxarca minhas mãos a cada pulsar e tenta expulsar
Minh'alma de um paraíso distante ao qual apontava de longe
As milhares de estátuas de bronze, meu corpo jazia insone
E retirava a areia dos olhos o amor que nunca teve nome
Curava dos delírios infantis
Um passeio no meio da multidão até esquecer onde moro
Os efeitos do álcool e altura das horas repousar um sonho
Que defenestra os encantos e de tanto falar eu perdi o ponto
E perdi o caminho e o sono
E a vontade de saber a verdade e a medida das coisas
O desenho das nuvens e ventos e hoje as ideias rasgam o peito
Com nada mais que um sopro no ouvido e hoje as palavras se cruzam
Na minha vertigem sem queda, o diálogo sem sentido
A torrente que me faz durar.

domingo, 8 de julho de 2012

Domingo


I
A nossa estrela sumiu e não há mais onde ao qual revisitar
Lamentavelmente num suspiro idêntico ao primeiro
O mundo em que nos refugiávamos num dia
Não existe mais senão em memórias curtas
E desenhos confinados em molduras frias
Devaneios sem sequer perspectiva
O inverno inventado, e ainda me aqueço no frio dessa noite
Com nada mais que os sedimentos trazidos com os dias..


No meio do sono desperto sob camadas de tinta
Envolto num ontem que jamais amanheceu embora cansado
Viagem longa e o amor que obtive em troca
Pois hoje não é preciso mais do que sua natureza morta
Para a noite sumir sem que dela eu me despeça.


II
O nosso segredo repousa do lado de dentro
Da cápsula do tempo enterrada no quintal 
No silêncio mórbido do hotel num vazio qualquer de domingo
Nas cartas que você escrevia em meio a tanta falta
E o mapa que faz a estrada parecer finita
Hoje o quintal é de concreto
O hotel foi esquecido e seu zunido silente se perde no escuro
As cartas eu não recebi, pois não se sabia de onde vim
E a estrada que resta é somente a minha
Cada dia mais incerta e tortuosa em seus caminhos
E sigo sem saber o porque de tanto seguir.

domingo, 17 de junho de 2012

Céu de maio - Parte II


A nós não cabe prever
O quanto podemos girar esse mundo, as mãos sobre o globo
Devolver o silêncio ao espaço, o que me falta de fôlego
Repousa no caminho de um acaso sem rumo, numa tarde sem volta
Na avenida que entrega sua casa, de rotas estou farto
E, fora de sincronia, acabo me perdendo em datas.
Pertencemos aos dias de flores extraviadas
Onde o inverno foi cancelado, a hora estava errada
E as intenções, desgastas numa descrença doentia.
Me tira do rosto as marcas de lençol num abraço torto
E escreva meu nome nas paredes de seu quarto
A nós restará remover os dilemas toscos e apagar os traços
Do tremor de um frio psicológico que minha sala resfria
E os móveis de dentro estalam
A poesia da ida dos anos e movimento do céu
E do sumiço das placas que me indicaram a estrada
Que me leva ao ponto de onde parado e de malas prontas
Aos poucos eu te perdia de vista
Relutante em aceitar qualquer objeto que me tenha dado de lembrança.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Portão



Por aqui já foi o bastante
Pra deixar essa vida de instante e andar
Aos portões da cidade, e pouco me importa
Se a escada cair lá do alto
Se alguém, por acaso, me achar.


março de 2007

Precoce


Trabalhe o tempo que é novo
Olha que o céu é fosco
Vive, que o caminho é longo
Pára, que amor é pouco
E, por mais que se jogue no abismo
Pouco conhece do precipício
Agarra-te a cada vulto
Livre dos impulsos e vícios


Dorme que a noite é curta
Sonha, que o espaço é tão vasto
Calma, que o caminho é longo
E escasso de significados.
(...)


21 de julho de 2008

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Cansaço

O que há em mim é, sobretudo, cansaço
De uma viagem longa num sapato apertado
Final de chuva e aquele céu desgasto
Desenhos confusos na parede do quarto.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Azul Marinho

Quem pode nos dizer o que há lá fora
Senão alguns cães latindo um mendigo na porta
O bebê dos vizinhos ainda chora, a lua sorrindo
E um trovão rasga o céu, a chuva que vem vindo
Podia engolir esse azul marinho.


Infeliz em minha tarefa de apontar causas, não importa
Mas se o dia carece de paz, o oposto do espectro é o que resta


E a noite tem sido longa.

20 de Fevereiro de 2009

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Sono

Não há perfume que distraia os sentidos
Brisa que distorça a maré e sustente meus vícios
Não há poeira que invente as linhas nos rostos
Nem tampouco aparato que revele os fantasmas nos livros
Ou quem sabe edifício que obstrua a visão do céu
Estampado por baixo de seu guarda-chuva
Só há tempo que cure, desenhos disformes nas nuvens
E um anjo que dorme enquanto eu procuro sem êxito
Sua porta no meio de um muro sem fim


A história enterrada em camadas de tinta,
Revelou-se profunda, porém natimorta
Uma vez que carece de início, contudo ela repousa desperta
Deixe sua porta entreaberta, leve como seu sono é
E a espera será breve.

domingo, 8 de abril de 2012

A garota com os olhos mais tristes

A garota dos olhos mais tristes daqui deseja sair
Encontrar-se com alguém lá fora que pareça sua casa
Deseja apertá-lo num abraço, saudade já morta
Que a leve nos braços em casa e lhe beije ao chegar a porta


Sua mente vagueia, sua febre não arde, resfria
Sua calma observa as luzes que passeiam
Enquanto a cidade adormece em sua pele macia
Te levo daqui um dia, um dia.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Esquecimento

As linhas infinitas por trás do travesseiro
De um sonho que não quero chamar de meu
A fuga do risco de se tornar um traço
No meio do vasto universo, na cova do esquecimento alheio
Perdido na imensidão do nada que creio
Eu que nem sequer existi até então.